Quando seu corpo te trai: encontrando força em uma nova identidade

Quando seu corpo te trai: encontrando força em uma nova identidade

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“A ferida é o lugar onde a Luz entra em você.” ~ Rumi

Eu não sabia o que significava lamentar um corpo que ainda estava vivo até que o meu se voltou contra mim.

Começou como um sussurro: fadiga persistente, sintomas estranhos que não combinavam, um medo silencioso que tentei ignorar.

Então, uma noite, desmaiei. Acordei em um quarto de hospital que não reconheci, preso a soros com os quais não concordei, cercado por vozes médicas que falavam com certeza enquanto eu permanecia sentado, confuso.

Não foi apenas um diagnóstico que recebi. Era uma linha na areia.

Antes daquela noite, eu pensava que sabia quem eu era. Eu havia viajado pelo mundo por amor, deixando para trás minha casa, minha língua, meu trabalho, minha identidade. Achei que aquele salto de fé já havia me redefinido.

Eu estava errado.

A doença não altera apenas a sua saúde; Isso muda tudo

Quando você convive com uma doença crônica, o mundo não muda com você.

Todos os outros continuam se movendo. Rápido.

Enquanto isso, seu ritmo diminui para o modo de sobrevivência. Os compromissos se tornam seu calendário. Você mede seus dias em energia – não em horas. Você deixa de pensar “sou forte” e passa a se perguntar “estou fraco agora?” E o mais difícil é que as pessoas ainda veem você como você era antes.

Mas por dentro você está se desfazendo.

Lembro-me de estar no chuveiro, com as mãos tremendo, tentando lavar o cabelo, chorando porque não conseguia levantar os braços por tempo suficiente. Lembro-me de estar sentado num café com amigos, fingindo que estava bem, enquanto todos os músculos gritavam. Lembro-me de como o silêncio se tornou meu escudo porque explicar parecia mais difícil do que esconder.

Eu tive que lamentar meu antigo eu

Ninguém lhe diz quanta dor surge ao ficar doente.

Sim, lamentei a liberdade física que perdi. Mas mais do que isso, sofri por quem eu pensava que era. O capaz. O confiável. Aquele que poderia fazer tudo.

Eu tinha sido aquela mulher.

Agora eu não conseguia nem preparar o jantar algumas noites, muito menos ajudar outras pessoas como costumava fazer.

E isso me deixou com raiva. Triste. Envergonhado.

A doença roubou não apenas minha resistência, mas também a imagem que eu tinha de mim mesmo. Essa foi a parte mais dolorosa. Eu não sabia mais onde me encaixava. Eu não era quem costumava ser, mas não tinha certeza de quem eu era agora.

A virada não foi dramática; Estava quieto

A cura não chegou com alarde. Não houve grande epifania.

Aconteceu um pequeno momento de cada vez.

A primeira mudança aconteceu quando parei de lutar contra o que era. Percebi que não poderia seguir em frente até parar de me apegar ao passado. Essa percepção não curou meu corpo, mas suavizou minha alma.

E essa suavidade tornou-se a porta para algo novo.

Comecei a ver que talvez o objetivo não fosse voltar a ser quem eu era, mas sim me tornar quem ainda poderia ser.

Isso me deu esperança – não porque as coisas ficaram mais fáceis, mas porque eu não estava mais resistindo a tudo.

O que me ajudou a reconstruir de dentro para fora

Se você está enfrentando uma mudança que não escolheu, principalmente uma que mora dentro do seu corpo, quero te oferecer o que mais precisava: permissão para se tornar alguém novo.

Aqui estão algumas coisas que me ajudaram a começar de novo – não como uma solução, mas como uma prática:

Lamente a sua versão antiga. Seriamente.

Não se apresse em superar sua tristeza. Diga adeus ao “você” que fez tudo, carregou tudo, disse sim, empurrou. Essa pessoa era importante. Eles eram reais. Eles merecem suas lágrimas.

O luto não é fraqueza – é o começo da verdade.

Redefina a força.

Força é não ser capaz de correr oito quilômetros ou riscar todas as tarefas da sua lista.

Força é acordar com dor e optar por se levantar de qualquer maneira – ou optar por descansar em vez de provar alguma coisa.

Força é pedir ajuda quando toda a sua identidade foi construída para ajudar os outros.

Pare de esperar para se sentir como você era antes.

A verdade? Você pode nunca mais se sentir como antes.

Mas isso não é uma tragédia – é um convite. Para viver de forma diferente. Para aprofundar. Para desacelerar. Escolher a suavidade ao invés do esforço.

Alguns dias isso parecerá uma perda. Outros dias, parecerá uma graça.

Deixe outros entrarem – seletivamente, honestamente.

Está tudo bem se a maioria das pessoas não entender. Encontre os poucos que o fazem ou que estão dispostos a ouvir sem precisar consertar.

Fale mesmo quando sua voz tremer. Compartilhe mesmo quando não tiver um final arrumado.

Você ficará surpreso com quantas pessoas sussurram “eu também”.

Faça as pazes com a pausa.

Você não está ficando para trás. Você não está quebrado.

Você está simplesmente em uma nova temporada. Aquele que pede coisas diferentes de você.

Não meça o seu valor pela rapidez com que você se move. Meça pelo quão profundamente você permanece consigo mesmo, especialmente nos dias difíceis.

Eu gostaria de poder dizer que lidei com tudo isso com graça desde o início. Mas a verdade é que resisti a tudo isso.

Eu queria minha antiga vida de volta. Eu queria provar que ainda era a mesma pessoa. Então continuei pressionando – ignorando os sintomas, fingindo estar bem, tentando acompanhar.

Isso só aprofundou a exaustão, física e emocionalmente. Meu corpo ficava desligado por dias. Eu me escondia na cama, com vergonha de não conseguir ‘avançar’ como antes.

O que eu não percebi na época foi que tentar ser quem eu costumava ser estava me custando quem eu estava me tornando.

Há um momento do qual me lembro vividamente: eu estava sentado à mesa da cozinha, com a luz da tarde entrando. Eu tinha uma xícara de chá quente na mão. E pela primeira vez, não houve pressa. Sem culpa. Apenas um suspiro. Apenas presença.

Não foi um avanço. Mas foi algo. Uma pequena abertura. Uma suavidade. Lembro-me de ter pensado: talvez eu não precise voltar a ser a pessoa que era. Talvez eu possa me curar adiante.

Essa mudança de mentalidade mudou tudo.

Não resolveu a doença. Mas consertou a parte de mim que continuava acreditando que precisava descansar, provar meu valor ou esconder minha dor.

Agora, quando os surtos surgem – e ainda acontecem – tento enfrentá-los com compaixão em vez de frustração. Falo comigo mesmo como falaria com alguém que amo.

Por fora, não mudou muita coisa. Mas por dentro? Eu criei espaço. Espaço para ser exatamente quem sou, mesmo no desconforto. Mesmo na incerteza.

Para quem está lendo isso e sente que seu corpo o traiu – que acorda se perguntando quem é agora – quero dizer o seguinte: sua suavidade é força. Sua lentidão é sagrada. Sua sobrevivência é heróica.

Mesmo que o mundo não veja isso, eu vejo. E espero que um dia você também o faça.

Você ainda é você

Há momentos, ainda hoje, em que sinto falta de quem eu era antes do diagnóstico. Sinto falta da energia. A facilidade. A certeza.

Mas eu não trocaria o que encontrei: um eu mais terno. Mais presente. Mais consciente do que realmente importa.

A doença me ensinou a desacelerar. Para deixar ir. Parar de viver como uma lista de verificação.

E me ensinou que ainda sou digno, mesmo quando não sou produtivo.

Se você está no meio de uma mudança de identidade – seja por doença, perda, divórcio ou qualquer outra coisa – você não está sozinho. Você não está quebrado. E você não precisa se apressar em direção à reinvenção.

Você ainda é você. Apenas diferente.

E essa diferença pode ser onde a luz real entra.



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