como os microrganismos influenciam em nosso corpo e bem-estar – Jornal da USP

como os microrganismos influenciam em nosso corpo e bem-estar – Jornal da USP

Lara Natacci detalha os impactos da microbiota intestinal na saúde humana, revelando sua conexão com o metabolismo, a obesidade e a saúde mental

Por Reginaldo Ramos*

Estudos que analisam a microbiota intestinal são mais recentes e apresentam um campo de análise promissor – Fotomontagem – Jornal da USP com Foto: kjpargeter – freepik  e Foto: JimCoote
Logo da Rádio USP

A microbiota intestinal, composta de bilhões de microrganismos, tem ganhado destaque no cenário científico por seu impacto em várias áreas da saúde, como a digestão, o metabolismo e até o sistema nervoso. Para entender mais sobre o papel desses microrganismos e como eles influenciam nosso corpo, conversamos com a professora Lara Natacci, do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP e diretora clínica da DietNet. Ela explica como a microbiota intestinal se forma, como ela afeta nosso bem-estar e qual a relação entre ela e questões como obesidade e saúde mental.

A microbiota se trata de um conjunto de microrganismos que habitam o intestino humano e que desempenham papéis essenciais para o bom funcionamento do corpo. Esses microrganismos incluem bactérias, fungos e vírus, que auxiliam na digestão e absorção de nutrientes, funções imunológicas e até emocionais. “Seres humanos apresentam microbiota em vários locais do corpo, como, por exemplo, a nossa pele, a nossa boca, o nosso nariz, o trato respiratório superior e até o trato geniturinário. A microbiota intestinal é a mais estudada entre elas porque ela possui uma enorme quantidade de microrganismos e tem várias funções vitais, como a produção de vitaminas, regulação do sistema imunológico e até comunicação com o cérebro”, explica.

Como se forma a microbiota?

A formação da microbiota intestinal começa desde o nascimento, com a transferência de microrganismos da mãe para o bebê, especialmente durante o parto normal. A partir daí, a microbiota vai se moldando ao longo da vida, sendo influenciada pela genética, pelo ambiente e, principalmente, pelos hábitos de vida, como a alimentação. “A microbiota é diferente conforme a pessoa, de acordo com a sua ascendência genética, conforme o seu ambiente também, então a gente acaba formando a nossa microbiota baseada nesses fatores. Ela varia conforme fatores genéticos e ambientais, como os alimentos que consumimos”, comenta.

Lara Natacci – Foto: Reprodução – Researchgate

A alimentação tem um papel fundamental na composição e desenvolvimento da microbiota. Dietas ricas em frutas, legumes, verduras, cereais integrais e alimentos probióticos favorecem o crescimento de microrganismos benéficos, enquanto uma dieta desequilibrada pode promover o crescimento de bactérias prejudiciais. “Dependendo do que a gente consome podemos ter uma microbiota mais saudável. Nossa alimentação é o que provê o substrato para o desenvolvimento desses microrganismos, além de permitir que, uma vez desenvolvidos, usem esses alimentos para produzir algumas substâncias e metabólitos que vão ter a ação benéfica no nosso corpo”, detalha. 

A microbiota e o ganho de peso

Uma das áreas de estudo sobre a microbiota é sua relação com o ganho de peso e a obesidade; os pesquisadores ainda não têm conclusões definitivas. No entanto, estudos recentes indicam que a composição da microbiota intestinal pode variar entre pessoas com peso saudável e obesas. “Estudos mostram que pessoas obesas têm uma microbiota diferente, com predominância de microrganismos que favorecem a absorção de energia dos alimentos”, afirma Lara Natacci.

Esses microrganismos alterados podem produzir substâncias que afetam o metabolismo e a saciedade. “Alguns dos substratos que essa microbiota produz são chamados de ácidos graxos de cadeia curta. Eles têm várias funções no nosso organismo e são produzidos pela fermentação das fibras alimentares. Esses ácidos graxos de cadeia curta têm um papel muito importante na regulação da nossa saciedade. Um deles em específico é responsável pela estimulação da liberação de hormônios intestinais que dão aquela sensação de saciedade. Por isso, é importante a ingestão desses alimentos ricos em fibras, frutas, legumes, verduras, cereais integrais, leguminosas e sementes oleaginosas.”

A obesidade e a microbiota podem influenciar-se mutuamente. “É uma relação bidirecional. A obesidade pode alterar a composição da microbiota, assim como uma microbiota desequilibrada pode contribuir para o ganho de peso”, afirma. “É importante lembrar que a microbiota é apenas um dos fatores que influenciam o ganho de peso. Hábitos como o consumo de alimentos saudáveis, a prática regular de exercícios e o gerenciamento do estresse têm um papel crucial na regulação do peso”, finaliza.

*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 



Jornal USP

Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *