Cientistas estudam genes da mulher mais velha do mundo – 26/09/2025 – Equilíbrio e Saúde

Idosa sentada em cadeira de rodas com cobertor bege, vestindo camisa jeans e casaco cinza, acompanhada por homem de terno azul escuro e camisa branca agachado ao lado dela em varanda com banco de madeira e vista de montanhas ao fundo.

Maria Branyas Morera, então a pessoa viva mais velha do mundo, tinha um último pedido antes de morrer. “Por favor, me estudem”, disse ela a Manel Esteller, presidente de genética da Faculdade de Medicina da Universidade de Barcelona.

Moradora de Olot, Espanha, ela faleceu em agosto do ano passado aos 117 anos.

Esteller e um grande grupo de colegas atenderam seu desejo. Eles examinaram sangue, saliva, urina e fezes de Branyas para tentar entender por que ela viveu tanto.

A resposta, em parte, de acordo com um artigo publicado na quarta-feira (24) na revista Cell Reports Medicine, é que ela cuidava de si mesma. Seguia uma dieta mediterrânea, não fumava nem bebia e caminhava uma hora por dia até o início dos anos 2000, quando isso se tornou muito difícil.

Ela também ganhou na “loteria genética” com variantes que, segundo os pesquisadores, foram associadas a proteção contra níveis elevados de colesterol, demência, doenças cardíacas e câncer, por exemplo.

“Ela tinha células que pareciam mais jovens do que sua idade”, afirmou Esteller.

Os micróbios que viviam dentro e sobre seu corpo (seu microbioma) estão associados a baixos níveis de inflamação, acrescentou o médico. Seu microbioma tinha altos níveis de um tipo de bactéria benéfica, Bifidobacterium, cujo crescimento pode ser estimulado por bactérias presentes no iogurte. Branyas comia três iogurtes por dia.

“Altos níveis de inflamação estão relacionados ao envelhecimento avançado”, disse Esteller.

Immaculata De Vivo, geneticista molecular da Universidade Harvard, que não participou do estudo, avalia que as explicações dos pesquisadores para a longevidade de Branyas são “cientificamente razoáveis”. Mas, alertou, “é sempre importante ter cuidado ao interpretar resultados de casos individuais, em oposição a estudos populacionais grandes e bem controlados”.

Embora a genética e fatores metabólicos possam influenciar as chances de desenvolver uma doença, “a causa da doença é geralmente uma questão de probabilidades, e não de absolutos”, disse De Vivo.

Em outras palavras, bons genes e microbiomas não vão mantê-lo vivo por si só.

Mary Armanios, oncologista e geneticista da Escola de Medicina Johns Hopkins, se mostrou menos convencida. Ela questionou afirmações de que certas variantes genéticas podem indicar longevidade.

“A genética da longevidade é notoriamente confusa”, disse ela. Quando pesquisadores procuraram variantes ligadas a uma vida longa, eles compararam os genes de pessoas mais jovens com os de pessoas centenárias. Mas, disse ela, os pesquisadores não sabem se essas pessoas mais jovens viverão até os 100 anos.

“O que você quer é um perfil genético que possa prever”, acrescentou. E isso é difícil de obter.

Armanios alertou que a genética e um bom microbioma não são nem de longe a melhor explicação de por que algumas pessoas vivem tanto. Ela observou que existem enormes diferenças na expectativa de vida ligadas aos níveis de educação e renda. Em Baltimore, por exemplo, isso resulta numa diferença de 20 anos entre pessoas que vivem no centro da cidade e aquelas que estão nos subúrbios, ela disse.

“Obviamente existem genéticas ruins que limitam a vida útil”, afirmou. “Mas não tenho certeza se uma boa genética é suficiente para superar limitações socioeconômicas.”

Branyas parecia excepcionalmente resiliente. Ela nasceu em São Francisco em 1907. Seus pais eram da Espanha, mas viajaram para os Estados Unidos a trabalho. Quando Branyas tinha 8 anos, seu pai morreu, e ela e sua mãe voltaram para o país europeu.

Ela se casou e teve um filho —que morreu aos 52 anos— e duas filhas, que agora têm 92 e 94 anos.

Membros de sua grande família morreram por causas comuns —doença de Alzheimer, acidente, câncer, tuberculose, insuficiência renal, doença cardíaca. Branyas continuou vivendo.

Ela parecia ter todos os pré-requisitos para uma vida longa. E seu estilo de vida parecia ideal.

Também tinha um círculo próximo de família e amigos, contou Esteller, acrescentando que conforme seus colegas morriam, ela fazia novas amizades.

Ela e sua família viviam na mesma cidade, e Branyas viveu de forma independente até 2001, quando a dificuldade para andar a levou para um lar de idosos. E tocou piano até cerca de cinco anos atrás.

“Viveu uma vida saudável”, concluiu Esteller.

Este artigo foi publicado originalmente no The New York Times.



Folha SP

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