O terceiro artigo da série explica que são as grandes corporações globais, e não escolhas individuais, as principais responsáveis pelo aumento do consumo de alimentos ultraprocessados, e defende que uma resposta global de saúde pública a esse desafio é urgente e viável. Os autores destacam que as empresas que fabricam e comercializam esses alimentos usam ingredientes baratos e métodos industriais para reduzir custos, combinados com marketing agressivo e designs atraentes para impulsionar o consumo. Com vendas anuais globais de US$ 1,9 trilhão, os ultraprocessados representam o setor mais lucrativo da indústria alimentícia. Só os fabricantes respondem por mais da metade dos US$ 2,9 trilhões distribuídos a acionistas por todas as empresas de alimentos de capital aberto desde 1962. Esses lucros alimentam o crescimento do poder corporativo nos sistemas alimentares, permitindo que essas empresas ampliem sua produção, influência política e presença de mercado, moldando dietas em escala global.
O trabalho revela que essas empresas empregam táticas políticas sofisticadas para proteger seus lucros, bloqueando regulações, influenciando debates científicos e moldando a opinião pública. Elas coordenam centenas de grupos de interesse em todo o mundo, fazem lobby com políticos, realizam doações eleitorais e usam a via judicial para atrasar políticas públicas. “Essas empresas costumam se apresentar como parte da solução, mas suas ações contam outra história, centrada em proteger lucros e resistir à regulação efetiva”, afirma Simon Barquera, pesquisador do Instituto Nacional de Saúde Pública do México.
Segundo os pesquisadores, enfrentar os alimentos ultraprocessados requer uma nova visão para os sistemas alimentares, capaz de valorizar produtores locais diversos, preservar tradições alimentares culturais, promover equidade de gênero e garantir que os benefícios econômicos da produção de alimentos retornem às comunidades, e não apenas aos acionistas. “Assim como enfrentamos a indústria do tabaco há décadas, precisamos agora de uma resposta global ousada e coordenada para conter o poder desproporcional das corporações de ultraprocessados e construir sistemas alimentares que priorizem a saúde e o bem-estar das pessoas”, defende Karen Hoffman, professora da Universidade de Witwatersrand (África do Sul).
“Vivemos hoje em um mundo onde nossas escolhas alimentares são cada vez mais dominadas pelos ultraprocessados, o que contribui para o aumento global da obesidade, diabetes e dos problemas de saúde mental”, conclui Baker. “Nosso estudo mostra que um caminho diferente é possível, um caminho em que governos regulamentam com eficácia, comunidades se mobilizam e dietas saudáveis tornam-se acessíveis e viáveis para todos”, conclui Baker”. A série da The Lancet sobre “Alimentos Ultraprocessados e Saúde Humana” contou com financiamento da Bloomberg Philanthropies.
Entre as estratégias para mobilizar uma resposta global de saúde pública, os autores sugerem o estabelecimento de uma rede global de ação contra alimentos ultraprocessados para coordenar ações e o financiamento de coalizões nacionais para se engajarem em negociação política, comunicação, aspectos legais e pesquisa. “As recentes conquistas em defesa de direitos e políticas públicas, especialmente na América Latina e na África Subsaariana, oferecem lições importantes para ampliar a ação em outros lugares”, concluem.
As conclusões do trabalho estão reunidas nos artigos:
Mais informações: haraflaeschen@gmail.com, com Hara Flaeschen, Gerente de Comunicação do Nupens
*Com informações da Comunicação do Nupens e da revista The Lancet
**Estagiária sob orientação de Moisés Dorado