Quer mais posts como esse na sua vida? Junte-se à lista do Pequeno Buda para obter insights diários ou semanais.
“Assim como uma rocha sólida não é abalada pelo vento, os sábios não são abalados por elogios ou culpas.” ~eleVersículo 81
Alguns momentos elevam você como o luar. Outros quebram você como uma onda. Passei por ambos — e passei a acreditar que a maneira como ultrapassamos esses limiares emocionais define quem nos tornamos.
Por limitesrefiro-me aos momentos decisivos em nossas vidas – experiências tão vívidas, dolorosas ou cheias de admiração que nos tiram de nossas rotinas habituais e nos colocam cara a cara com algo real. Alguns chegam em silêncio, outros com som e luz, mas todos deixam uma marca. E eles pedem algo de nós.
A noite em que os sapos cantavam
Anos atrás, eu estava em San Ignacio, Baja California Sur – uma pequena cidade situada no meio de um vasto e agreste deserto. Mas este deserto escondia um segredo: um rio alimentado por uma nascente que serpenteava silenciosamente entre juncos grossos e bosques de palmeiras altas.
Uma noite, caminhei sozinho ao longo da água. A lua cheia iluminou tudo em prata. A cidade estava dormindo, mas os sapos estavam bem acordados – milhares deles – e suas vozes enchiam a noite.
Parecia um milhão. Um coro forte e imparável subindo ao céu, como se estivessem cantando para os deuses no céu.
Os insetos dançavam no ar como faíscas. O rio brilhava. Fiquei no silêncio, ouvindo.
E então, algo em mim se elevou.
Minha respiração desacelerou. Meus pensamentos pararam. Eu me senti livre – presente, leve, completamente dentro do momento.
Eu senti como se pudesse voar.
Não na fantasia, mas no meu corpo. Como se por um raro instante o peso de tudo tivesse desaparecido. Eu não estava observando o mundo. Eu fiz parte disso. Conectado aos sapos, ao luar, ao pulsar da própria vida.
Esse foi um limite que cruzei sem saber. Não é dramático, mas sagrado. Um momento de totalidade tão completo que continua a ecoar, anos depois.
Nem todos os limites são alegres
Aquela noite à beira do rio foi um dos extremos do espectro. O outro é algo muito mais difícil.
Li recentemente sobre uma mãe que perdeu toda a família no espaço de um ano. Seu marido morreu inesperadamente. Depois o filho dela, num acidente de carro. Então, sua única filha sobrevivente foi arrastada pelas enchentes no Texas.
De uma casa cheia a um silêncio insuportável – em apenas doze meses.
Não consigo imaginar a profundidade dessa dor. Mas reconheço-o também como um limiar – um ponto a partir do qual não há como voltar atrás. Perdas como essa não apenas ferem – elas transformam. Altera a forma do tempo e da identidade. Exige uma nova forma de viver.
E isso me lembra: os limites nem sempre são momentos que escolhemos. Às vezes, eles nos escolhem.
O Homem da Ermita
Também penso em um homem que eu via todos os dias em uma esquina movimentada de Ermita, região metropolitana de Manila. O cruzamento era caótico: táxis, vendedores, buzinas, crianças ziguezagueando no trânsito. E ali, ao lado do 7-Eleven, estava um homem rolando para frente e para trás em uma pequena tábua de madeira com rodas.
Ele não tinha pernas. Seus braços eram curtos e deformados. Aquela plataforma de madeira era a sua única casa, o seu único meio de transporte, a sua única constante.
Ele não gritou ou implorou em voz alta. Ele acabou de se mudar. Silenciosamente. Presente. Duradouro.
E muitas vezes me perguntei: Quais são os limites para ele? O que lhe traz alegria? Que dor ele carrega que nenhum de nós vê?
Sua vida me ensinou algo. Que alguns limiares sejam vividos todos os dias – sem drama, sem barulho. Alguns são esculpidos no corpo. Para a rua. No ato de continuar, não importa quem perceba.
Cada um de nós vive em seu próprio espectro de experiência. E a sua presença ajudou-me a reconhecer que as minhas próprias alegrias e lutas não existem isoladamente – elas vivem ao lado de inúmeras outras, igualmente profundas, igualmente humanas.
O espectro emocional pelo qual todos passamos
Estas três histórias – a noite das rãs, a perda da mãe, o homem em Ermita – podem parecer não relacionadas. Mas eles não são.
Eles são todos limites.
- Um deles é um limiar de admiração.
- Um deles é um limiar de tristeza.
- Um deles é um limiar de resiliência silenciosa.
Eles representam diferentes pontos do mesmo espectro emocional. E quanto mais profundamente reflito, mais compreendo que todos nós estamos nos movendo ao longo desse espectro – para frente e para trás, de novo e de novo.
O que equilíbrio realmente significa
Muitas vezes nos dizem para buscar o equilíbrio. Mas não creio que equilíbrio signifique neutralidade calma ou evitar extremos emocionais.
Para mim, equilíbrio é a capacidade de permanecer com os pés no chão enquanto sendo esticado. Para lembrar a alegria mesmo na tristeza. Manter a quietude mesmo quando a vida está barulhenta. Para sentir tudo – e não desligar.
A sabedoria não é a ausência de intensidade. É a vontade de fique com o que quer que a vida traga – e continue caminhando.
Escrever tem sido minha maneira de permanecer com os pés no chão.
A terapia me ajudou a encontrar as palavras. Mas escrever me deu um lugar para vivê-los. Isso me ajuda a lembrar o que senti – e a entender o que isso significava. É como faço as pazes com o passado. É como eu alcanço algo completo.
Quando escrevo, volto àquela noite em San Ignacio. Volto também ao homem de Ermita e aos incontáveis limiares pelos quais passei tranquilamente – alguns com alegria, outros com dor.
Escrever me ajuda a permanecer fiel ao que é real, mesmo quando é difícil. Especialmente quando é difícil.
Um convite para você
Talvez você tenha tido sua própria versão daquela noite no rio – um momento inesperado de beleza ou clareza. Ou talvez você esteja diante de um limite que não escolheu: tristeza, medo, mudança, incerteza. Talvez você esteja sobrevivendo silenciosamente, como o homem na tábua de madeira.
Onde quer que você esteja no espectro, quero dizer o seguinte: os limites pelos quais passamos não nos tornam mais fracos. Eles nos moldam. Eles nos acordam. Eles nos ensinam a presença – e não a perfeição – se decidirmos permanecer com a nossa experiência, mesmo quando ela dói.
Se você está escrevendo, refletindo ou simplesmente respirando tudo isso, você já está no caminho.
E esse caminho um dia o levará a outro limiar em algum outro lugar do espectro. Portanto, fique aberto a cada momento transformador e deixe que eles transformem você em alguém mais vivo, mais resiliente e mais equilibrado.

Sobre Tony Collins
Tony Collins é documentarista, educador e escritor cujo trabalho explora a criatividade, o cuidado e o crescimento pessoal. Ele é o autor de: Janelas para o mar—uma comovente coleção de ensaios sobre amor, perda e presença. Bolsa Criativa—um guia para educadores e artistas que repensam como o trabalho criativo é valorizado. Tony escreve para refletir sobre o que é importante – e para ajudar outras pessoas a se sentirem menos sozinhas.