EUA cortam US$ 500 mi de financiamento a vacinas de mRNA – 06/08/2025 – Equilíbrio e Saúde

A imagem mostra uma mão segurando um frasco de vacina com um rótulo visível. Uma seringa está posicionada próxima ao frasco, com a agulha inserida no líquido. O frasco é de vidro e possui uma tampa prateada. A seringa é transparente e contém um líquido claro.

O secretário de Saúde dos Estados Unidos, Robert F. Kennedy Jr., cancelou quase US$ 500 milhões (R$ 2,7 bilhões) em subsídios e contratos para o desenvolvimento de vacinas de RNA mensageiro, ou mRNA, segundo anunciou o Departamento de Saúde e Serviços Humanos na terça-feira (5).

É o mais recente ataque à pesquisa que utiliza esse tipo de tecnologia. Em maio, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos revogou um contrato de quase US$ 600 milhões (R$ 3,2 bilhões) com a farmacêutica Moderna para desenvolver uma vacina contra a gripe aviária.

Os novos cortes preocupam cientistas. Muitos deles consideram as vacinas de mRNA como a melhor opção para proteger os norte-americanos em uma pandemia.

“Este é um dia ruim para a ciência”, disse Scott Hensley, imunologista da Universidade da Pensilvânia que tem trabalhado no desenvolvimento de uma vacina de mRNA contra a gripe.

Utilizadas pela primeira vez durante a pandemia de Covid-19 pela Pfizer-BioNTech e Moderna, as vacinas de mRNA instruem o corpo a produzir um fragmento de vírus, que então desencadeia a resposta imunológica do corpo.

Diferentemente das vacinas tradicionais, que podem levar anos para serem desenvolvidas e testadas, as vacinas de mRNA podem ser produzidas em meses e rapidamente alteradas conforme o vírus muda. A tecnologia ganhou um Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 2023.

Mas há algum tempo, céticos de vacinas passaram a desconfiar desse tipo de vacina. O secretário Kennedy tem sido um forte crítico. Ele chegou a chamar as vacinas contra a Covid de “as mais mortais já feitas”.

Em um vídeo publicado nas redes sociais na terça-feira, ele afirmou, sem provas, que as vacinas de mRNA não protegem contra doenças respiratórias como Covid e gripe, e que uma única mutação em um vírus torna a vacina ineficaz.

“Como a pandemia nos mostrou, as vacinas de mRNA não têm bom desempenho contra vírus que infectam o trato respiratório superior”, disse ele no vídeo.

Cientistas contestaram as afirmações de Kennedy e disseram que elas são imprecisas.

“Ao emitir esta declaração extremamente incorreta, o secretário está demonstrando seu compromisso com seu objetivo de longa data de semear dúvidas sobre todas as vacinas”, disse Jennifer Nuzzo, diretora do Centro de Pandemia da Escola de Saúde Pública da Universidade Brown.

“Se não tivéssemos usado essas vacinas de mRNA que salvam vidas para proteger contra doenças graves, teríamos tido milhões de mortes a mais por Covid”, disse ela.

O departamento de saúde afirmou em seu comunicado que os cancelamentos afetaram 22 projetos gerenciados pela Autoridade de Pesquisa e Desenvolvimento Biomédico Avançado (Barda, na sigla em inglês).

O departamento disse que favorecerá outros tipos de vacinas em vez daquelas que usam mRNA, como vacinas de células inteiras, uma abordagem com mais de 100 anos.

Os Estados Unidos não usam uma vacina de células inteiras para coqueluche desde a década de 1990, por exemplo, porque era potente, mas agressiva, frequentemente desencadeando febres altas e convulsões.

O próprio Kennedy atacou a principal organização internacional de vacinas, Gavi, a Aliança para Vacinas, por continuar a usar a vacina de células inteiras em países de baixa renda, citando isso como o motivo pelo qual os Estados Unidos estavam retirando o financiamento da organização.

Ao cortar o desenvolvimento de mRNA, o departamento de saúde está “minando nossa capacidade de combater rapidamente futuras ameaças biológicas”, disse Rick Bright, especialista em gripe que foi destituído do cargo de chefe da Barda durante o primeiro governo Trump e renunciou a um cargo inferior em protesto.

“Estamos enfraquecendo nossa defesa de primeira linha contra patógenos de rápida evolução. Isso é um enorme fracasso estratégico que será medido em vidas perdidas durante tempos de crise”, afirmou.

Chris Meekins, secretário assistente para preparação para pandemias no primeiro governo Trump, disse que encerrar o trabalho de mRNA da Barda criou uma “vulnerabilidade de segurança nacional”.

“Essas ferramentas servem como um impedimento para evitar que outras nações usem certos agentes biológicos”, disse Meekins em um e-mail e nas redes sociais. “A velocidade da tecnologia para criar novas capacidades de biodefesa é um ativo de segurança nacional”.



Folha SP

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