Mulheres fazem empréstimos para pagar cirurgias plásticas – 07/08/2025 – Equilíbrio e Saúde

Mulheres fazem empréstimos para pagar cirurgias plásticas - 07/08/2025 - Equilíbrio e Saúde

“Dá para fazer cirurgia plástica sem dinheiro? Sim. Dá para fazer mesmo se você tem nome sujo”, anunciam vídeos no Tiktok.

Nas redes sociais, mulheres compartilham estratégias financeiras para realizar procedimentos como mamoplastia, lipoaspiração, abdominoplastia, ou várias operações ao mesmo tempo, cujos preços variam de R$ 2.000 a mais de R$ 100 mil.

Além de procurar médicos e clínicas acessíveis, elas aderem a empréstimos ou consócios. O Brasil é o país que mais realiza cirurgias plásticas no mundo, segundo relatório da ISAPS (Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética).

No entanto, médicos são proibidos de atender pacientes encaminhados por empresas que anunciem ou comercializem planos financeiros e também de divulgar as práticas, segundo o Código de Ética Médica, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).

O CFM diz que reconhece o desejo legítimo da população de ter acesso a procedimentos de cirurgia plástica. “No entanto, manifesta preocupação com práticas que podem desvirtuar a ética médica, banalizar intervenções cirúrgicas e contribuir para a mercantilização da medicina”, diz a coordenadora da Câmara Técnica de Cirurgia Plástica do CFM, Graziela Schmitz Bonin.

O artigo 72 do Código de Ética Médica e a Resolução CFM nº 1.836/2008, dizem que, embora seja permitido ao consultório médico oferecer opções facilitadas de pagamento, isso deve ocorrer após a consulta e diretamente entre médico e paciente, jamais por meio de atravessadores ou empresas terceiras.

“É dever exclusivo do médico estabelecer o diagnóstico, indicar o tratamento e realizar os procedimentos, assumindo a integral e intransferível responsabilidade pelas condutas. Da mesma forma, cabe ao médico definir diretamente com seu paciente o valor e a forma de cobrança de seus honorários, sem a participação de terceiros”, diz também Schmitz Bonin.

Na hora de escolher um cirurgião, afirma a SBCP, é importante ter certeza de que o profissional não tem relações diretas com a intermediadora financeira.

Além disso, reforça que, antes de optar por uma cirurgia, é fundamental buscar profissionais qualificados. No site da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica), no campo “Encontre Um Cirurgião”, o paciente pode verificar se o médico tem a certificação necessária ao digitar o nome do profissional (parcial ou completo, sem acento).

“Todo membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica deve, obrigatoriamente, ser encontrado nesta plataforma por um dos critérios de busca: nome completo, ou parcial, ou estado de atuação”, informa o site.

Além dos riscos à saúde física, buscar um procedimento estético a qualquer custo também pode ser uma ameaça à estabilidade financeira. Há empresas que fecham contrato mesmo se o cliente estiver inadimplente.

Anna Cristina de Morais, 29, influenciadora digital e empresária de São Luís de Montes Belos (GO) conta que fez três cirurgias plásticas com dois diferentes tipos de estratégia financeira.

Em 2022, ela fez um consórcio entre amigos para pagar uma abdominoplastia. “Tenho dificuldade para juntar dinheiro, então optei pelo consórcio entre alguns amigos. Fui pagando, fiz mais de um. No fim, paguei R$ 12 mil à vista [ao médico].”

Consórcio é uma forma de compra coletiva em que pessoas pagam parcelas mensais para formar um fundo comum, usado para adquirir algo. A cada mês, um ou mais participantes são contemplados por sorteio ou lance. Pode ser administrado por uma empresa ou informalmente, entre amigos, como feito por Anna.

Em 2023, a influenciadora quis fazer uma lipoescultura (combinação de lipoaspiração com enxertia de gordura em algumas regiões do corpo) e uma mastopexia (levantamento dos seios) com prótese de silicone e diz que optou por um financiamento com uma empresa que tinha seu cirurgião como um dos sócios.

“Eu não precisei dar entrada. Só fiz o processo burocrático deles, de análise financeira, recebi aprovação e já fui para a sala de cirurgia. Financiei todo o valor e, hoje [dois anos depois], estou terminando de pagar. Pago R$ 900 por mês”, diz a influenciadora.

Ketlyn Kinn, 31, influenciadora e biomédica de Sapiranga (RS), também diz que fez um consórcio, mas não específico para cirurgias plásticas. Ela conta que escolheu uma carta de crédito para automóvel e pagou as parcelas, até ser contemplada. “Em vez de usar e comprar um carro, eu resolvi vender essa carta para a empresa e usar o valor mais alto para pagar minha cirurgia plástica.”

Com o valor da carta de crédito, Katlin diz que pagou uma lipoaspiração e uma mastopexia. Algum tempo depois, fez outro consórcio e, quando foi contemplada, vendeu novamente e fez uma rinoplastia (plástica no nariz).

“Dessa forma, é mais fácil guardar dinheiro. Inclusive, eu fiz outra carta agora, apesar de não ter nenhuma cirurgia em vista. Porém, daqui a pouco, se eu for contemplada e não quiser trocar de carro, posso fazer algum outro procedimento estético. Mulher gosta muito disso, né?”, diz a influenciadora.

Como funciona

Várias empresas de financiamento são anunciadas no Tiktok. Uma delas é a Belocorp. Em simulação feita pela Folha, a empresa pede que o cliente diga qual é o médico e a clínica com quem deseja operar, o procedimento, a data e uma base de valor do procedimento.

O pagamento, segundo diz a atendente, é por meio de boleto bancário. Após pagar 50% das parcelas e a carência do plano, já é possível realizar a cirurgia. Nos meses (ou anos) seguintes, paga-se o restante dos boletos. Segundo a empresa, as parcelas são fixas.

Para um plano de R$ 20 mil (valor médio de uma mastopexia), a empresa ofereceu propostas de parcelamento de 12 a 120 vezes, com entrada de R$ 1.000.

A Belocorp ainda anuncia em seu site uma série de benefícios, que incluem “entrada facilitada”, “não precisa dar lance”, “não tem sorteio” e “sem consulta de score”.

Bancos também possuem linhas de crédito e consórcios que podem ser usados para cirurgias plásticas.

O Bradesco oferece o “CDC Cirurgia Plástica”, um financiamento de até 70% do valor da cirurgia em até 48 meses. O Sicoob também tem o plano “Crédito Pessoal para cirurgia plástica”, em até 48 vezes. As parcelas possuem juros.

Empresas de consórcio, como Ademicon e Embracon, oferecem cartas de crédito específicas para cirurgia plástica, de R$ 20 mil a R$ 40 mil. Geralmente duram de 12 a 28 meses e não possuem taxas de juros como os financiamentos bancários.

Alguns médicos e clínicas também anunciam nas redes sociais planos de facilitação de pagamento das cirurgias.

Riscos financeiros

Daiane Alves, educadora financeira da Neon, diz que assumir tais contratos pode ser uma opção para pessoas organizadas. Por outro lado, podem prejudicar as finanças se não houver um bom entendimento.

“É importante entender a sua situação financeira e como você pode fazer para alcançar esse objetivo. Cada opção depende da realidade e da necessidade de cada um. Se planeje financeiramente para isso e analise todas as opções com calma e muita atenção”, diz.

A profissional alerta para o risco de entrar em um contrato estando com o nome sujo. “O maior risco é o de aumentar a dívida que já possui. Quem está com o nome na lista de inadimplentes tende a não cumprir com os pagamentos de mais uma despesa, fazendo com que vire uma bola de neve.”

Alves diz que, em qualquer tipo de contrato é necessário analisar todas as informações e, no caso de alguma dúvida, procurar uma ajuda especializada. “Essa análise é extremamente importante para se entender o que está sendo contratado e como funcionará nos próximos meses, além das consequências em caso de inadimplência”, diz.

Além disso, ela diz que o ideal é procurar instituições ou empresas sólidas, que tenham como cumprir com o contrato.



Folha SP

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