OMS: aumento da resistência a antibióticos ameaça avanços da medicina

Cientistas na Argentina estudam amostras de bactérias para rastrear e controlar o surgimento de resistência antimicrobiana

A Organização Mundial da Saúde, OMS, lançou esta segunda-feira o novo Relatório Global de Vigilância da Resistência aos Antibióticos 2025. O documento apresenta, pela primeira vez, estimativas de prevalência de resistência em 22 antibióticos usados no tratamento de infeções urinárias, gastrointestinais, sanguíneas e gonorreia.

O documento abrange oito patógenos bacterianos comuns, todos associados a uma ou mais destas infecções.

Ameaça crescente

Os dados reportados ao Sistema Global de Vigilância da Resistência e do Uso de Antimicrobianos (Glass, na sigla em inglês) da OMS, alertam que o aumento da resistência a antibióticos essenciais representa uma ameaça crescente à saúde global.

Entre 2018 e 2023, a resistência antimicrobiana aumentou em mais de 40% das combinações de patógeno e antibiótico monitoradas, com um crescimento médio anual entre 5% e 15%.

A OMS estima que a resistência a antibióticos é mais elevada no Sudeste Asiático e no Mediterrâneo Oriental, onde uma em cada três infecções reportadas era resistente, e na África, onde uma em cada cinco apresentou resistência. 

Cientistas na Argentina estudam amostras de bactérias para rastrear e controlar o surgimento de resistência antimicrobiana

Capacidade limitada

Esses casos são mais frequentes em locais onde os sistemas de saúde têm capacidade limitada para diagnosticar ou tratar patógenos bacterianos. O diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, afirmou que “à medida que os países fortalecem os seus sistemas de vigilância”, é preciso usar antibióticos de forma responsável e garantir que todos tenham acesso a medicamentos adequados, diagnósticos de qualidade e vacinas.

O relatório destaca que as bactérias Gram-negativas resistentes a medicamentos, estão a tornar-se cada vez mais perigosas, com o maior impacto nos países menos preparados para responder. Entre estas, E. coli e K. pneumoniae são as principais encontradas em infeções sanguíneas, frequentemente associadas a sepse, falência de órgãos e morte.

Mais de 40% das estirpes de E. coli e mais de 55% de K. pneumoniae a nível global já são resistentes à primeira escolha de tratamento para estas infecções. Em África, os níveis ultrapassam os 70%. Outros antibióticos essenciais e que salvam vidas, incluindo carbapenemes e as fluoroquinolonas, estão também a perder eficácia, forçando o uso de fármacos de “último recurso” caros e difíceis de obter, sobretudo em países de baixo e médio rendimento.

Progresso insuficiente

A participação dos países no Glass aumentou de 25 países em 2016 para 104 em 2023. No entanto, 48% dos países não reportaram dados à OMS nesse ano, e muitos dos que o fizeram não possuíam sistemas de dados fiáveis.

Em 2024, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou a Declaração Política sobre Resistência Antimicrobiana, que estabelece metas para reforçar os sistemas de saúde e promover uma abordagem de Saúde Única, coordenando ações nos setores da saúde humana, animal e ambiental.

OMS endossou plano de ação global para combater a resistência a antibióticos e outros medicamentos antimicrobianos

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Ação coordenada até 2030

A agência da ONU apela a todos os países que, até 2030, apresentem dados de alta qualidade sobre resistência e uso de antimicrobianos ao Glass. Para atingir este objetivo, será necessário melhorar a qualidade, a cobertura geográfica e a partilha de dados de vigilância, permitindo acompanhar o progresso global.

Os países devem intensificar intervenções coordenadas em todos os níveis dos cuidados de saúde e garantir que as listas de medicamentos essenciais e as diretrizes terapêuticas estejam alinhadas com os padrões locais de resistência. O relatório é acompanhado por conteúdos digitais ampliados disponíveis no Painel da Glass da OMS, que oferece resumos globais e regionais, perfis de países e informações detalhadas sobre o uso de antimicrobianos.



ONU

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