Preços elevados e mudanças climáticas são principais obstáculos para dietas saudáveis e sustentáveis – Jornal da USP

Preços elevados e mudanças climáticas são principais obstáculos para dietas saudáveis e sustentáveis – Jornal da USP

Para Thais Caldeira, custo médio de alimentos mais nutritivos exemplifica a desigualdade de renda brasileira

Por Isabella Lopes*

Imagem de vários pratos saudáveis, contendo verduras e legumes como brócolis, cenoura, ervilha e quiabo
Mais da metade (53,4%) das calorias consumidas pela população de dez ou mais anos de idade teve origem em alimentos in natura Foto: Marcos Santos / USP Imagens
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A alimentação saudável é um dos pilares da saúde adequada, segundo o Ministério da Saúde brasileiro. A prática deve ser variada e equilibrada, com preferência a comidas in natura ou minimamente processadas, de modo a fornecer os nutrientes necessários para o bem-estar físico e mental do indivíduo. Também é possível aliá-la à sustentabilidade, por meio da conscientização sobre os impactos sociais, ambientais e econômicos envolvidos desde o processo de produção até o ato de cozinhar. 

De acordo com Thais Caldeira, pesquisadora no Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), uma dieta que una esse dois fatores tem como base a ingestão de produtos de origem vegetal, como frutas, hortaliças, cereais integrais e oleaginosas. A redução do consumo de carne vermelha, laticínios e alimentos que passam por modificações e aditivos contribui para o panorama: “Faz bem para a saúde humana e para o planeta, já que tem menor impacto ambiental”.

Custos 

A pesquisadora, que também é membro da Comunidade de Prática América Latina e Caribe Nutrição e Saúde (Colansa), parceira da Cátedra Josué de Castro, chama atenção para o custo médio de uma dieta saudável e sustentável no Brasil. Ela cita a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2017/2018 e afirma que “é de cerca de R$12, um pouco acima do preço médio da dieta atual da população, que custa por volta de R$11″. 

Mais da metade (53,4%) das calorias consumidas pela população de dez ou mais anos de idade, segundo a análise do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), teve origem em alimentos in natura e minimamente processados, como arroz, carne bovina e feijão. Já 19,7% da energia adquirida pela alimentação foi proveniente de ultraprocessados, a exemplo da margarina, biscoitos e pães. Esses exemplos estão fora da composição da nova cesta básica, livre de ultraprocessados, estabelecida no decreto 11.936/2024 e com base no Guia Alimentar para a População Brasileira

Thaís Caldeira – Foto: Arquivo pessoal/Linkedin

Para Thais, carnes vermelhas e comidas de baixa qualidade nutricional são os principais encarecedores dos pratos brasileiros. “Enquanto isso, na dieta saudável, o maior gasto é com frutas e hortaliças. […] Então haveria uma espécie de troca de custo entre esses grupos”, afirma. 

A desigualdade descrita pela pesquisadora é observada pela Agência Brasil, a qual demonstrou que a alimentação saudável ficou 32% mais cara entre 2017 e 2022, por exemplo. “Para a população de menor renda, essa dieta pesa mais no orçamento, principalmente por já ser um grupo com baixa alimentação de alimentos mais caros”, explica. Entretanto, ela nota que, para camadas de maior orçamento, os custos são similares. 

Influência na variação dos preços 

Segundo Thais, o valor dos alimentos não saudáveis é mais acessível quando comparado àqueles com maior valor nutritivo, o que garante maior participação nos pratos brasileiros e o descontrole dos índices de obesidade, hipertensão e diabetes. 

Crises econômicas e sanitárias, como o tarifaço de Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, e a pandemia de covid-19, são alguns dos responsáveis por essa alta. A especialista alerta para a ação das mudanças climáticas, que impactam a produtividade das lavouras e podem reduzir a quantidade de produtos vegetais e de matérias-primas nos centros de comércio. “Eventos extremos como secas, inundações e ondas de calor prejudicam a produção e, assim, reduzem a oferta e elevam os preços”, explica. Ela cita como exemplos o café e o azeite, os quais atingiram alta recorde em 2025. 

*Sob supervisão de Cinderela Caldeira



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